“Ao
longo dos anos que namorei e estive casada com o Luis (nome fictício), tentei
perceber qual o tipo de mulher que ele gostaria. Se loura, se morena, se burra,
se inteligente… Sempre achei que eu não era quem ele amava…
A maior
parte do tempo pensei que não estava à altura dele, desvalorizava-me, era
insegura, tinha medo, principalmente medo de que me abandonasse.
Assim
desta forma, dei o melhor de mim, fui a melhor esposa que consegui, sempre
prendada, boa dona de casa, tentei estar sempre cuidada e bonita, embora
pensasse que nem isso me valia de nada, como não valeu.
Esta
semana recordei os meus tempos de adolescente, de como me sentia o patinho feio…
Usava óculos, não vestia roupas de marca como os betinhos que se juntavam no
recreio no sítio do costume. Nesse grupo também estava o Luis, mas longe de eu
pensar que um dia seria sua mulher. Nessa altura, observava as raparigas desse
grupo e pensava em como gostava de ser assim, como gostava de pertencer ao
grupo dos melhores, dos maiores, dos giros e dos bem vestidos.
Passados
todos estes anos e após alguns reencontros, constatei que os betinhos e
betinhas hoje são gordos e gordas, carecas, velhos e alguns deles com vidas
completamente destroçadas.
O patinho
feio, afinal é uma linda mulher, com uma vida pacata é certo, com desilusões é
um fato, infeliz por um lado (desemprego e divórcio) mas feliz por ter uma
linda família, uma casa e um filho saudável e maravilhoso…
Contudo,
todos os dias habitam em mim questões para as quais ainda não encontrei
respostas:
-
Porque não fui feliz no casamento?
- O
que tenho eu de errado? Ou serão eles?
- É
assim tão difícil ser feliz?
- É
assim tão difícil amar e ser amada?
Estou
exausta…”
Este é o desabafo que a Luísa (nome fictício)
faz para o papel e decide partilhar comigo…
Eu e a Luísa estamos nesta viagem há aproximadamente
um ano. Recordo-me de ter chegado até mim completamente destroçada e com a
auto-estima destruída. Nessa altura apenas a desilusão da separação era tema de
consulta… Muitas vezes nem existia assunto, a dor era insuportável e apenas
chorava…
Como se não bastasse, enfrentou outra perda,
o desemprego. A empresa onde trabalhava não dispunha de verbas para a manter em
colaboração.
- “Não consigo Débora!” Assim me revelava o
seu desespero.
Posto isto, e após muita incidência nestes
lutos, surgiu o caminho que levaria ao “eu pelos meus olhos” e não ao “eu pelos
olhos dos outros”.
Devagarinho fomos tocando na auto-estima e
criando a autonomia necessária para viver sem o marido. Sentia-se incapacitada
para fazer imensas coisas, recordo-me da sua felicidade por exemplo, quando simplesmente
conseguiu comprar um Smartphone sozinha e da sua surpresa por perceber que conseguia
aprender a utilizá-lo sem ajuda!
O descobrir “quem sou eu”, “o que realmente
gosto”, “o que me realiza” em vez de “como me vêem”, “o que devo fazer”, ”o que
esperam de mim” levou-nos à consciência de que o patinho feio, afinal, de feio
não tem nada, muito pelo contrário.
É certo que ainda existe um caminho a
percorrer até ao nosso destino, existem questões que ainda não dão descanso à
Luisa, contudo, é certo também que o ponto de partida há muito que ficou para
trás.
Tal como a Luisa viveu quase 40 anos da sua
vida a desejar ser como os outros, a tentar ser perfeita, a tentar ser o que
achava que os outros esperavam de si, deixando a sua identidade esquecida,
também muitas outras “Luisas” o fizeram e ainda fazem.
Muitas outras “Luisas” vivem na esperança do
que será o amanhã, o amanhã em que se sentirão amadas, ao mesmo tempo que deixam
o presente passar… Não o vivem. Perdendo a oportunidade de serem felizes hoje!
Perdendo a oportunidade de procurar dentro
delas a felicidade, enquanto a procuram constantemente no exterior!
A todas as “Luisas” sugiro que não sejam tão
duras consigo próprias! Sugiro que se permitam olhar para “dentro”, aceitando-se!
Só aceitando é possível amar.
Como complemento a esta crónica sugiro a
leitura das cronicas Apaixone-se por si! Parte I e II
Débora Água-Doce
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